Um dos melhores retratos do que podemos chamar de palimpsestos urbanos é o trabalho do artista plástico Alexandre Orion. Boa parte do seu trabalho está em utilizar a cidade como suporte para suas manifestações que por vezes soam como um protesto silencioso.
Este é o caso de “Ossário”, um grafite às avessas no qual a limpeza da fuligem deixada pelos carros é que revela a imagem da morte que jaz lado a lado com nossa consciência urbana. O texto da omissão, que escreve a cada dia mais um capítulo da apropriação predatória do espaço urbano, dialoga com uma intervenção efêmera que levanta questionamentos e tenciona a informação existente que, de tão banal já não salta mais aos olhos.
O signo daquilo que qualifica a cidade como cinza adquire novos significados. A informação icônica que apenas sugere uma nova leitura permite que a narrativa da cidade poluída e cinzenta passe à fabulação, um processo que acontece sempre no trânsito entre a informação como dado e a percepção como relação, o que implica uma ampliação dessas imagens e seus significados num processo associativo que amplie também o espectro das possibilidades cognitivas de onde emerge a produção do lugar.