segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

flanerie às avessas



São Paulo é assim: uma cidade fragmentária, com suas diversas imagens que reúnem a diversidade e o que dela decore – os contrastes. Essa diversidade está inscrita na mistura de sotaques, no exotismo dos sabores em seus mais variados restaurantes, na grandiosidade e beleza de seus templos religiosos, na popularidade do comércio da Rua 25 de Março em contraposição à elegância da Rua Oscar Freire, na imponência de seus edifícios com vista para as favelas, no cinza dos prédios que tentam engolir seus belos parques arborizados.

É neste cenário também que se pode observar diferenças que, de tão banais, já não salta aos olhos dos que circulam por ali desatentos: mendigos em meio a ternos e tailleurs em pleno coração financeiro e empresarial da cidade.

São esses personagens estranhos ao ambiente que ditam outro tempo e forma de apropriação do espaço que fazem lembrar o “homem na multidão” de Edgar Allan Poe. Diferente do flaneur de Walter Benjamin, que era um fisionomista da cidade, procurando conhecê-la pelos sentidos através da montagem de seus índices existenciais, o homem da multidão torna-se anônimo e sem identidade em meio às perturbações causadas pela cidade e pelo número elevado de pessoas convivendo no mesmo espaço.

Não se trata, neste caso, de caminhar sem objetivo ou intencionalidade permitindo a construção de textos a partir de elementos não-verbais, trata-se, sim, de uma flanerie às avessas que os obriga a não ter propriamente um espaço, mas construir um lugar sempre móvel e passageiro. É preciso levar consigo apenas o essencial, já que para quem carrega a vida nas costas, a casa se constrói dentro.