Outra coisa que descobri olhando para meus familiares, foi a herança que meu pai cultivou. É incrível como um exemplo pode ser muito mais forte do que as palavras.
Meu pai sempre foi um homem calado e, até certo ponto distante. Nunca sentava à mesa para comer com a gente; não tínhamos esses rituais tão importantes. Também nunca foi de conversar, perguntar sobre meu dia, sobre a escola, sobre a vida. Muito desse comportamento se explica, ou se agrava (acredito) pela atividade que exerceu por muito tempo: trabalhou no IML, muitas vezes carregando corpos – atividade nem um pouco gratificante.
E tudo isso por um senso de responsabilidade incrível, por uma necessidade dele de não deixar que nada nos faltasse. Mas faltou. Sempre falta alguma coisa. Faltou o afago no cabelo, o abraço apertado e ao mesmo tempo solto e leve, sem a restrição da distância fina e invisível que nos separou. Faltou o calor do colo, faltou a mão para segurar na hora do choro.
Mas não faltaram exemplos – de pró-atividade, de trabalho duro e honesto. Sempre vi meu pai consertando o que estava quebrado, sempre procurando o que fazer, trabalhando em até 3 empregos simultaneamente para suprir nossas necessidades. E foi esse comportamento que moldou minha visão e expectativa com relação aos homens, modelo que carrego ainda hoje.
Para mim homem tem que ser “o homem da casa” e isso me fez exigente demais. Não encontrando esse modelo, senti a necessidade de me tornar independente, de não esperar que homem nenhum fizesse o que julgo necessário.
Fica difícil, a partir deste ponto de vista, não ser exigente ao extremo comigo mesma. Fazer com que as coisas aconteçam a despeito de ter ou não alguma ajuda. Essa exigência recai, inevitavelmente, sobre as pessoas que me cercam: exijo delas no mesmo nível que exijo de mim; exijo até mesmo a perfeição que, certamente, não tenho.