Tenho tido cada vez mais dificuldade de escrever – uma mistura de preguiça, falta de tempo e desculpas esfarrapadas que invento para mim mesma. A verdade é que o medo de me desafiar se misturou a uma falta de debates diários sobre assuntos mais diversificados e porque não dizer, mais culturais.
Tento, até com certo excesso de exigência, continuar a ler bons livros a frequentar salas de cinema, ver bons filmes (ou ruins para tentar entender a diferença e fazer algum tipo de crítica), ir ao teatro, enfim. Tudo isso, sem dúvida, é alimento para o intelecto, para a alma. Mas é fundamental que haja a troca, a discussão. A diferença de pontos de vista fomenta a criação de novas relações, de conexões que passam pelo olhar e pela percepção do outro. É uma nova “organização do material” colocando o tema sob diferentes enfoques.
Dia desses comentei com um amigo que algumas pessoas, em especial da região Sudeste, ainda insistem em ter (e por vezes nutrir) certo preconceito com relação a outras regiões do país com destaque para a região Nordeste. Entretanto, foi morando em Fortaleza que conheci algumas das pessoas (e amigos) mais brilhantes com quem tive o prazer de debater (mas principalmente de aprender) sobre arte, cinema, dança, literatura e toda forma de manifestação cultural que enobrece qualquer pessoa.
Ao contrário, quando voltei para São Paulo, cidade cosmopolita, onde o acesso à cultura existe para qualquer gosto e bolso, me deparei, não sem espanto, com uma completa falta de variação na pauta diária. Não quero ser generalista, mas até hoje pude identificar três assuntos básicos que vão se alternando: futebol, novela e vida dos outros.
Adoro futebol, torço, vou ao estádio e até xingo se for preciso, mas não faço disso o motivo principal da minha existência e tão pouco de discórdia. Também não troco o prazer da leitura por um capítulo de novela cujo enredo já está ultrapassado há muito tempo. Mas pior que só falar em quem vai casar com quem ou quem traiu quem na ficção, é transferir o enredo para a vida real, ou melhor, para a vida alheia real com uma pitada de maldade para dar ênfase ao drama.
Será que para essas pessoas o motivo para esta falta de variedade é também preguiça e falta de tempo? Chego a me envergonhar de ter admitido esse tipo de pensamento no primeiro parágrafo deste texto... Se for isso, me proponho a mudar, como dizem os mineiros, o rumo desta prosa. E então pessoal, qual é o assunto do dia?