sábado, 5 de maio de 2012

Cidade e desejo

Lembro que todas as vezes que pensei em me mudar de cidade, ou que me mudei efetivamente, fui motivada por um desejo. Desejo de viver com qualidade, de morar em um lugar mais bonito, de conhecer novas pessoas ou de rever tantas outras. Olhar para uma cidade e imaginar-se nela é experienciá-la como imagem possível, como sonho. E ainda que a cidade já seja conhecida, enquanto não se chega ao destino, é o desejo que conduz a imaginação e dá forma a uma cidade latente porque ainda não habitada.

É o uso que nos dá a noção do modo de ser da cidade e dos seus moradores. Viver a cidade é reconhecê-la, é ler as sutilezas do seu dia-a-dia e traduzi-la. E é aí que pode nascer o descompasso entre o que se imaginou e o que de fato foi encontrado, porque a cidade é uma para quem acaba de chegar e outra para quem nela já está há algum tempo. É uma para o estrangeiro e outra para quem dela nunca se afastou.

Na dinâmica cotidiana é que se confrontam expectativas e vivências que ora se confirmam deixando com a gente a alegria do acolhimento e ora se negam deixando claro que o movimento não cessa para quem sempre renova vontades.

De qualquer forma, desejo é aquilo que a gente carrega, que nos acompanha e nos move independente de onde estamos ou para onde vamos. É como escreveu Ítalo Calvino: “os passos seguem não o que se encontra fora do alcance dos olhos, mas dentro (...)."