Andar na
contramão é uma escolha. Ser olhada de viés é a consequência. Num mundo onde o
tempo é hiperacelerado e o espaço encolheu, fazer a opção por ir mais lento e
alargar horizontes soa como loucura quando não como preguiça ou apatia. Na
verdade, entrar nessa roda-viva sem tecer ao menos um fio de questionamento se
isso se encaixa no modo de vida que queremos é que me parece insano.
Acabamos
por fazer coisas demais, comprar coisas das quais não precisamos simplesmente
por parecer mais adequado, mais bem aceito, “normal”. Essas coisas que
compramos sem precisar, esses títulos que acumulamos sem, muitas vezes usar,
esses papéis que desempenhamos sem questionar, se tornam as correntes que
arrastamos e que com o tempo pesam ao ponto de causar feridas.
E arrastar
corrente pesada em tempo de velocidade me parece um paradoxo ainda maior do que
escolher a leveza e a liberdade de seguir sem tantas cobranças e exigências.
Uma epifania aparentemente. Mas me parece uma forma bem mais prazerosa que
aproveitar o agora já que nada dura para sempre, como já dizia aquele mesmo
coelho à Alice: “Alice: Quanto tempo dura o eterno? / Coelho: Às vezes apenas um
segundo”.