domingo, 10 de abril de 2011

Banksy - intervenção urbana e o jogo da percepção

A discussão acerca do graffiti é extensa e vai longe: é arte? é vandalismo? Prefiro, aqui, entendê-la como intervenção urbana – uma metalinguagem não-verbal que representa a cidade dentro dela mesma.

Neste cenário Banksy é um dos seus maiores representantes. Através de seus desenhos subverte não apenas os espaços e usos da cidade, mas também seus principais símbolos como ao mostrar uma “Estátua da Liberdade” infantil com o dedo no nariz ou a guarda oficial inglesa, símbolo da rigidez e postura, urinando no muro.






O artista cria um diálogo com o espaço que está para além de uma ordenação dos signos que demarcam de antemão as formas de apropriação e programam nossa percepção submetendo o corpo a uma rotina cotidiana de movimento pelo espaço que, transformada em uso habitual, muitas vezes, provoca um afastamento perceptivo.
Banksy parece interessar-se pelo modo como o corpo insere-se na cidade e a constrói, pela maneira como vive o espaço da forma como ele é – com suas paredes manchadas, riscadas, com a tintura descascando ou com suas alternativas à sobrevivência, bem como pelas marcas que ficam no corpo e na cidade decorrentes da interação de ambos na passagem do tempo.



Essa outra forma de viver o/no espaço da cidade escapa das formas rígidas e se produz na tessitura dos afetos, do embate ou encontro com o outro, com a sociabilidade enfim. De fato, a percepção da cidade, a partir da montagem de seus vários elementos, se mostra como um jogo em que as regras são feitas ao jogar, como sugerem os versos da poeta Orides Fontela “Quebrar o brinquedo ainda / é mais brincar”, revelando que destruição e construção são partes do mesmo processo de jogar com a multiplicidade dos possíveis.