domingo, 24 de abril de 2011

Limoeiro

“Limoeiro tão bonito e a flor do limão é doce, mas a fruta do pobre limão é impossível de comer”.

É com esta letra, embalada por uma bela melodia, que tem início o filme israelense “Limoeiro” (Lemon Tree) do cineasta Eran Riklis. Seu enredo ultrapassa a tensão existente entre dois países – Israel e Cisjordânia – e penetra na profundidade das relações humanas, sejam elas entre nações, entre vizinhos, entre homem e mulher.

O filme conta a história de uma mulher palestina (Salma) que teve sua vida atormentada com a chegada de um novo vizinho – o ministro da Defesa de Israel – que, em nome de sua própria segurança contra possíveis ataques terroristas exige a derrubada da plantação de limões que herdou de seu falecido pai e que amorosamente cuidou para sua própria sobrevivência - “uma árvore é como uma pessoa, precisa de atenção, cuidado, carinho e que falemos com ela”.

É possível perceber que os limoeiros, durante algum tempo, exerceram um papel de fronteira, numa alusão metafórica ao espaço que separa os dois países. É importante ressaltar que fronteira não é sinônimo de limite, mas antes se apresenta como seu contrário; na fronteira é possível estabelecer um filtro, enquanto que o limite se apresenta como um elemento contra-comunicativo. Através das frestas entre uma árvore e outra se estabelece um diálogo silencioso sobre poder, cumplicidade, resistência.

Mas não é de território que trata este filme. Riklis fala, antes, sobre a fragilidade dos laços humanos, fala sobre as relações doces e bonitas como a flor do limoeiro que muitas vezes se tornam tão azedas quanto o limão. A imagem que fica é a de um muro, este sim que restringe, que afasta, que limita, diante do qual não há mais o que dizer.


domingo, 10 de abril de 2011

Banksy - intervenção urbana e o jogo da percepção

A discussão acerca do graffiti é extensa e vai longe: é arte? é vandalismo? Prefiro, aqui, entendê-la como intervenção urbana – uma metalinguagem não-verbal que representa a cidade dentro dela mesma.

Neste cenário Banksy é um dos seus maiores representantes. Através de seus desenhos subverte não apenas os espaços e usos da cidade, mas também seus principais símbolos como ao mostrar uma “Estátua da Liberdade” infantil com o dedo no nariz ou a guarda oficial inglesa, símbolo da rigidez e postura, urinando no muro.






O artista cria um diálogo com o espaço que está para além de uma ordenação dos signos que demarcam de antemão as formas de apropriação e programam nossa percepção submetendo o corpo a uma rotina cotidiana de movimento pelo espaço que, transformada em uso habitual, muitas vezes, provoca um afastamento perceptivo.
Banksy parece interessar-se pelo modo como o corpo insere-se na cidade e a constrói, pela maneira como vive o espaço da forma como ele é – com suas paredes manchadas, riscadas, com a tintura descascando ou com suas alternativas à sobrevivência, bem como pelas marcas que ficam no corpo e na cidade decorrentes da interação de ambos na passagem do tempo.



Essa outra forma de viver o/no espaço da cidade escapa das formas rígidas e se produz na tessitura dos afetos, do embate ou encontro com o outro, com a sociabilidade enfim. De fato, a percepção da cidade, a partir da montagem de seus vários elementos, se mostra como um jogo em que as regras são feitas ao jogar, como sugerem os versos da poeta Orides Fontela “Quebrar o brinquedo ainda / é mais brincar”, revelando que destruição e construção são partes do mesmo processo de jogar com a multiplicidade dos possíveis.