sábado, 21 de novembro de 2009

Porque é tão difícil ser livre?

A primeira resposta que me vem à cabeça é que, embora clichê, a liberdade implica em responsabilidade. E não se trata de uma responsabilidade de assumir o que se faz, de dizer “sim, assumo, fui eu que fiz”, mas de saber aonde se quer chegar e, sobretudo, de acertar na escolha. O conceito de liberdade, a meu ver, está completamente ligado a um fator cultural que nos diz que devemos acertar sempre.

É inevitável também que o conceito de liberdade me remeta aos casamentos. Viver com alguém que tem suas próprias decisões, que tem outros hábitos, outra forma de ver o mundo, de certa forma faz com que, logo num primeiro momento, ajustemos nossas lentes permitindo mais ou menos flexibilidade no modo de fazer e de ver as coisas. Mas não é isso que nos tira a liberdade; ao contrário, esse ajuste é necessário para nosso crescimento. O que nos impede de sermos livres é aquele fator cultural de que falei, que nos diz que assumir um compromisso é assumi-lo para sempre, porque o fundamental é acertar. Como se mudar de ideia, demonstrasse fraqueza ou volatilidade.

Assumir, socialmente, que um relacionamento chegou ao fim é admitir o próprio fracasso. É como se a escolha não tivesse sido bem sucedida, deixando-se de levar em conta todo o tempo bom que se passou junto. Dar certo, neste caso, não significa estar eternamente junto. Dar certo significa acabar quando chegou a hora, acabar com dignidade, mesmo que ainda exista amor. O amor não termina quando um casamento chega ao fim. Este é o “x” da questão. É preciso admitir apenas que os objetivos passaram a ser diferentes e que, por isso, os caminhos devem ser diferentes. Do contrário, vive-se escravo da necessidade de acertar trazido, contraditoriamente, pela liberdade.

Mas não é apenas com o fim de um relacionamento que se pode falar em liberdade. Há a liberdade, ou a necessidade dela, durante o tempo que se está junto. E não estou falando em sair sozinho ou mesmo com outras pessoas. Estou falando da necessidade de se ter espaço, de se poder respirar. Também é cultural a ideia de que se demonstra amor estando o tempo todo ao lado de quem se ama. Estar ao lado pode e deve ter outras conotações como companheirismo, cumplicidade e apoio. Amor também se demonstra respeitando o espaço de cada um. E não só o espaço, mas também e, principalmente o tempo. Cada pessoa tem seu tempo não apenas para os afazeres cotidianos, mas para entender, assimilar e estar só – e este é o seu tempo de contemplação. O que acontece é que acabamos nos acostumando com esse comportamento que nos obriga a estar presentes e aceitamos tais amarras imaginárias para não ferir ninguém e também, paradoxalmente, para demonstrar amor. Cria-se um circulo vicioso e, como todo vício, este também é escravizador.