domingo, 16 de janeiro de 2011

Recomeçando

“Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.”
(Cora Coralina)


O início do ano traz sempre uma ideia de um possível recomeço; é simbolicamente o momento da virada- virada da mesa, virada do jogo - e tantas outras viradas que representam o momento da esperada “volta por cima”. Para a maioria, a passagem do ano marca o final de um ciclo e início de outro carregando consigo o espaço aberto das possibilidades.

Mas qual é o real significado da palavra recomeçar? O prefixo “re”, de origem latina, pode ter três sentidos: o de reforço, o de retrocesso e o de repetição. Sendo assim, poderíamos falar em começar com mais intensidade, com maior força; poderíamos falar em voltar ao ponto de partida para seguir em frente novamente, ou ainda tornar a começar reconsiderando aquilo que não foi possível concluir. Seria, portanto, apenas uma questão de escolha.

Entretanto a vida, esta que se dá no embate com o outro, com o dentro, não se refaz assim a partir de um “belo truque de calendário”, como diria Mário Quintana. Não é possível dormir em um ano que se quer esquecer e, com um corte seco e preciso, acordar em outro em que tudo é diferente e, é claro, muito mais feliz.

A vida é um contínuo e as marcas que deixa são necessárias ao aprendizado. Criar a expectativa de que a passagem do ano traz mudanças radicais só traz ansiedade desnecessária. Mais interessante é considerá-la como momento de reflexão para mudanças que se dão no tempo.

Neste ponto de vista, para retratar esta retomada nos textos postados aqui e traçar novos caminhos, prefiro usar a palavra no gerúndio, como no título deste post. Desta forma, sigamos recomeçando, recriando a vida no devir. Sempre é tempo!